PERSPECTIVAS DA GRAMÁTICA DO DESIGNER VISUAL (GDV) NA ANÁLISE DE IMAGENS


        

 De acordo com Gomes e Silva (2018) a multimodalidade constitui-se pela“integração de distintos códigos semióticos”, assim, as manifestações da linguagem se dão através da composição das multissemioses que podem apresentar-se forma única ou simultânea por meio de textos escritos, visuais, sonoros, fílmico, comerciais, etc. Além disso, estas materializações textuais são resultantes das escolhas lexicais do produtor textual, de modo que os sistemas semióticos em um texto se integram de forma intencional “ampliando a capacidade comunicativa” (GOMES; SILVA, 2018, p. 58), assim, a escolha semiótica de um texto propõe sentidos que esperam ser atribuídos, ou seja, interpretados, pelo leitor. 

Nesse sentido, na perspectiva da Gramática do Designer Visual (KRESS; LEEUWEN, 2001) devemos refletir a concepção tradicional de texto restrito em uma linguagem escrita ou oral e propor novas abordagens de ensino no que diz respeito à leitura de imagens. Diante disso, mediante a intensa produção de textos multissemióticos percorridos no ambiente digital ou fora dos espaços midiáticos, a GDV “busca, então, analisar textos não verbais e entender como eles são construídos e como significam” (GOMES; SILVA, 2018, p. 59). Podemos, assim, observar algumas categorias de análise propostas pela teoria da GDV, de forma a ressaltar que os textos imagéticos, sonoros, audiovisuais, dentre outros, também possuem suas funções importantes no ato comunicativo, demonstrando que os parâmetros de análise da GDV, que serão mencionadas mais à frente, demandam conhecimento teórico-metodológico que auxiliem na interpretação do leitor.

            Assim, é com base na Semiótica Social e na Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) que a GDV relaciona, respectivamente, o estudo das semioses na sociedade, bem como analisa o uso da língua em seu contexto social. Partindo disso, a GDV propõe categorias de análises metafuncionais que correspondem a três tipos: “representacional, interacional e composicional” (GOMES; LIMA, 2018, p. 59) que serão observadas mais adiante, é por meio dessas categorias que iremos explorar a imagem abaixo.

             A fotografia escolhida deu-se pela busca de um corpus que fosse possível investigar como as formas de olhar tem o poder de comunicar algo por meio de uma imagem. Para além disso, outro aspecto que nos chamou a atenção foi a disposição dos animais na foto que, por sua vez, foi retirada de um site de Walppaper que geralmente são usados no modo “papel de parede” de telas de celulares ou computadores, o qual podemos observar a imagem de três cachorros e um gatinho que ilusoriamente faz uma selfie. Nesta foto é perceptível que temos um elemento marcante: os olhares dos animais que se dão de modos distintos, isto é, cada um olha para uma direção específica.

Observemos:

Imagem 1: (metamorfose digital)

 

                                   Fonte: https://www.mdig.com.br/index.php?catid=23

             Na foto ilustrada observamos, além dos olhares direcionados, o fato de que um gato consegue fazer uma selfie com três cachorros ao fundo, nesse caso, de acordo com a categoria da metafunção interacional da GDV temos a presença de dois tipos de olhares: “olhar de demanda”, quando o participante olha diretamente para o leitor, exigindo dele algo, e “olhar de oferta”, quando o participante representado não olha diretamente para o leitor, oferecendo-se para contemplação, sem exigir dele explicitamente uma ação” (GOMES; SILVA, 2018, p. 61), assim, observamos que os dois tipos de olhares comunicam expressões distintas, por exemplo, o olhar central do gatinho que está mais próximo da câmera, revela um ato de aproximação dele para com o leitor, de modo que esse “olhar de demanda” provocam aspectos emocionais no leitor, visto que, por se tratar de um animal doméstico, essa imagem pode suscitar um ato de ação que pode ser de atenção, carinho e cuidado demandados pelo animal.

             Enquanto ocorre esse “olhar de demanda” que associamos à relação socioemocional do gato para com o ser humano ou vice-versa, nos olhares dos cachorros, temos o “olhar de oferta” que não exige “explicitamente uma ação” por parte do leitor, pois, esse tipo de olhar configura um distanciamento dos participantes para com o interlocutor. Além desses tipos de olhares representados, também podemos observar a posição superior, à frente e central do gatinho mediante os outros participantes, esta posição superior do gatinho passa ao interlocutor, a ideia de superioridade, isto é, de poder. Assim, “ler, nessa perspectiva, significa integrar os mais diversos modos semióticos para compreender os sentidos explícitos e implícitos do texto” (GOMES; SANTOS; LIMA, 2021, p. 75) nessa perspectiva da metafunção interacional da GDV, os participantes envolvidos na fotografia, desempenham olhares funcionais que demandam o conhecimento sociocultural do leitor na interpretação da fotografia.

             Ainda no que diz respeito às categorias de análise da GDV, é possível interpretar que a fotografia possui alta modalidade naturalística, visto que, retrata cores vibrantes, em um ambiente natural que se aproxima do real (GOMES; SANTOS; LIMA, 2021) além disso, a aproximação do gatinho através de seu olhar central revela alta intimidade do leitor para com ele, por outro lado, o mesmo não acontece com os cachorros, que, pela visão horizontal apresentada, mantêm um distanciamento médio com o leitor, assim, podemos dizer que o enquadramento da imagem é médio passando a impressão de maior subjetividade da imagem quando não mostra uma cena englobante que o leitor saiba para quem ou onde os cachorros estão olhando.

             Com isso, destacamos alguns dos parâmetros de análises propostos pela GDV, contudo, vale ressaltar que cada leitor pode preencher “lacunas” de modos divergentes dos quais foram apresentados aqui, visto que, cada leitor tem seu próprio conhecimento de mundo e experiências socioculturais que irão contribuir no momento de interpretação/interação textual. Portanto, a partir da imagem que buscamos analisar e das categorias elencadas, reforçamos a importância de explorar a teoria da GDV em textos multimodais, visto que, essas categorias têm por objetivo contribuir com métodos eficazes na construção de sentidos e na leitura de imagens.

 

REFERÊNCIAS

GOMES, Francisco Wellington Borges; SANTOS, Jaqueline Silva; LIMA, Caroline Bezerra. A mulher do calendário: um estudo semiótico sobre os estereótipos da figura feminina nas campanhas publicitárias da Campari. Texto Digital, v. 17, n. 2, 2021.

 

GOMES, Francisco Wellington Borges; SILVA, Ana Paula de Oliveira. Multimodalidade e persuasão em uma peça publicitária audiovisual. 2018.

 

KRESS, Gunter; VAN LEEUWEN, Theo. Multimodal Discourse: the modes and media of contemporary communication. London: Theo Hodder Education, 2001.

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